A produção florestal madeireira no Acre passa por profundas transformações. É bem provável que desde que adquiriu alguma importância econômica, nos idos da década de 1970, em nenhum momento de sua história o setor madeireiro acreano tenha passado pelo que esta acontecendo atualmente.

Uma transformação significativa na quantidade de madeira explorada, ao sair de uma oferta anual que durante quase 20 anos flutuou ao redor de 200 mil metros cúbicos de madeira serrada, para uma previsão em 2010 de em torno de 1 milhão de metros cúbicos.

A primeira constatação é que, parece evidente, que essa quantidade de madeira para ser produzida requer a existência de uma capacidade instalada de processamento que superou, de vez, o ciclo produtivo baseado no Toreiro e na Serraria de Ramal para entrar na era da Indústria Florestal de Madeira.

Seria impossível aos antigos transportadores de madeira autônomos, que geralmente eram oriundos do quadro das próprias serrarias, chamados de toreiros (alusão ao transporte de toras) conseguissem adquirir e transportar a quantidade de madeira atualmente requerida no ciclo da Indústria Florestal.

Os toreiros, que parecem estar definitivamente extintos da cadeia produtiva da madeira, também tinham o complexo papel de servir como ponto de contato entre a Serraria de Ramal com a maioria de pequenos produtores rurais, alguns médios e poucos grandes. Funcionavam, como intermediário entre o interessado em transformar a tora em produto e o detentor da árvore.

Geralmente apontado como foco de irregularidades a atuação dos toreiros foi objeto principal, por muito tempo, da atuação da fiscalização realizada pelos órgãos ambientais.

Apesar das duras críticas dos que entendiam de fiscalização e defendiam a tese de que o alvo principal deveria ser a serraria, a fiscalização realizada, em nível nacional pelo Ibama e alguns órgãos estaduais, considerava mais cômodo perseguir os velhos e quase sempre quebrados, caminhões dos toreiros que encarar a resistência dos mais abastados donos de serraria.

Ocorre que era nas condições do transporte da tora e na documentação exigida para sua execução que a fiscalização se dedicava. Primeiro por ser cômodo. Bastava a colocação de barreiras temporárias em trechos específicos das rodovias e saídas de ramais onde os fiscais podiam dar plantões apoiados por militares fardados, que algumas vezes eram do exercito (para demonstrar se tratar de uma operação de guerra provavelmente).

A documentação para transporte tinha um nome bem estranho Autorização para Transporte de Produtos Florestais, conhecida pela sigla ATPF, e impressa, para evitar fraudes, pela Casa da Moeda e, lógico, em papel moeda, o mesmo do dinheiro.

Como nesse tipo de fiscalização focada no lado fraco da corda, o toreiro, não se conseguia evitar fraude alguma, a ATPF foi extinta antes do toreiro.

Todavia o toreiro era um ator social importante na distribuição de renda e especialização do trabalho no setor madeireiro. Com a chegada do ciclo da Indústria Florestal, o toreiro foi substituído pelos caminhões romeu e julieta, tecnicamente denominados de treminhões, que conseguem transportar até 8 vezes mais metros cúbicos de toras por carga.

No ciclo da Industria Florestal, parece não haver lugar para pequenos e amadores. Esse raciocínio deve valer para todos os elos da cadeia produtiva: do produtor ao consumidor do móvel ou do piso de madeira.

Será a Serraria de Ramal a próxima a ser extinta no novo ciclo madeireiro acreano? Esperar para ver.

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