O Acre é rico em experiências com a instalação de Sistemas Agroflorestais. Afinal, foi por iniciativa dos próprios produtores rurais que surgiu a mais conhecida delas, a do Projeto Reca. Ainda em 1988, um grupo ousado de produtores da esquecida Vila Extrema batia de porta em porta, na busca de apoio para iniciar um jeito diferente de conduzir sua produção agrícola.

Para esses produtores, com vivência na produção rural adquirida em outras regiões, a produção baseada em espécies agrícolas tradicionais não tinha futuro por duas razões. Era ao mesmo tempo ruim para ganhar dinheiro e pior ainda para o meio ambiente.

A opção pela instalação de um Sistema Agroflorestal, SAF para os técnicos, parecia ser a mais correta. Mas, o SAF nessa época ainda era considerado como de elevado risco e poucos acreditavam nessa possibilidade, apesar de seu importante diferencial, o da adequação à realidade florestal da região.

Ocorre que o SAF é instalado no momento em que o produtor termina a limpeza da área. Após o desmatamento e a queimada, o produtor vai realizar o plantio das espécies vegetais de ciclo curto usadas para sua produção de subsistência. A maior parte será consumida por sua família e uma menor parcela será comercializada no mercado local. Geralmente são plantadas espécies agrícolas como: milho, arroz, macaxeira e feijão.

Nesse momento o produtor também realiza o plantio das espécies de ciclo médio, compostas por espécies frutíferas como: açaí, cupuaçu, pupunha e graviola. A previsão é que essas espécies iniciem sua produção após os 3 primeiros anos de plantio. O produtor pode concluir o seu SAF com a inclusão das espécies de ciclo longo. Geralmente espécies florestais madeireiras que começaram a produzir bem mais tarde, após 15 anos de plantio.

Tradicionalmente, depois que o produtor usa a área para produção de subsistência, pelos 3 primeiros anos, percebe algum esgotamento do solo e, sendo assim, abandona a área para pousio. No caso do SAF, a capoeira a ser formada seria enriquecida com a presença das espécies frutíferas e florestais por ele introduzidas.

Além da opção acertada pelo sistema produtivo ancorado na tecnologia do SAF, os produtores do Reca também tiveram percepção suficiente para acertarem nas espécies escolhidas: cupuaçu e pupunha. O Reca é um dos primeiros plantios dessas espécies considerado um sucesso na Amazônia.

Para colocar seu projeto em prática e realizar os primeiros plantios, os produtores contaram com apoio decisivo da Igreja Católica e do Ministério do Meio Ambiente, MMA. No início da década de 1990 era o MMA, por meio da Secretaria de Coordenação da Amazônia, um dos mais importantes financiadores de iniciativas produtivas de elevado risco e importância ambiental para região.

Logo em seus primeiros anos de funcionamento, o Reca mostrou que além de uma produção rural preocupada com as questões ambientais eles também sabiam como se organizar para produzir.

Com um complexo processo de hierarquia e tomada de decisão, que se inicia com reuniões nos ramais, os produtores conseguem uma verdadeira façanha na realidade da produção rural comunitária local: gerir e obter lucros em seus negócios. Devem ser os únicos!

A experiência do Reca é uma das muitas, que pode ajudar o Acre a se preparar para não queimar em 2010. Isso é possível!

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