Em 204, o desmatamento na Amazônia reduziu 8%, tendo alcançado uma área inferior a 5.000 km².

Não se trata, obviamente, de uma área pequena – longe disso. Todavia, depois do susto tomado em 203, quando o desmatamento cresceu 28% e os analistas chegaram a prever um “repiquete”, vale dizer, uma nova e perigosa fase de elevação, a queda de 204 foi recebida com entusiasmo.

Mas ainda é cedo para conjecturas, e a concretização de alguma tendência, de declínio ou de ascensão, vai depender do que ocorrer daqui para a frente. Se houver recuperação econômica, junto com obras de expansão da infraestrutura (por exemplo, o asfaltamento da rodovia BR 39, entre Porto Velho e Manaus), certamente o risco da ampliação do desmatamento aumentará consideravelmente.

Além da redução ocorrida na taxa de desmatamento, 204 trouxe outras boas novas para a Amazônia e a conquista da sustentabilidade.

Os resultados obtidos na COP 20, reunião da ONU realizada em Lima, foram positivos, na medida em que um novo acordo climático global, em substituição ao Protocolo de Kyoto, deverá ser assinado em Paris no final de 205.

A expectativa é a de que o novo acordo climático seja inflexível em relação ao desmatamento e, o melhor, estabeleça mecanismos para a valorização das formações florestais como instrumento-chave da chamada economia de baixo carbono.

Significa que, num futuro cada vez mais próximo, o país que conservar áreas de florestas, sobretudo nativas e especialmente na Amazônia, terá acesso a recursos financeiros compensatórios e volumosos.

A composição do Fundo das Mudanças Climáticas, que recebeu aportes consideráveis dos países desenvolvidos, demonstra que o tema do aquecimento do planeta chegou à condição de prioridade política internacional.

E falando em ganhos para a sustentabilidade da Amazônia, não se pode deixar de fazer referência – por mais contraditório que possa parecer – às implicações decorrentes da crise de água no Sudeste do país.

Tudo indica que, no caso da expressiva queda observada no volume d’água do Sistema Cantareira (para dar o exemplo de são Paulo), os efeitos das alterações no clima se concretizaram na falta de chuvas.

Pois bem. Existem evidências científicas de que o desmatamento na Amazônia, sua localização e ampliação anual, interfere no regime pluviométrico da região Sudeste, aumentando ou reduzindo a quantidade de água que cai do céu.

Ou seja, a destruição das florestas – de longe o mais grave problema ambiental da Amazônia – além dos inúmeros prejuízos sociais e econômicos que causa na própria região, ainda pode ter parcela de culpa na seca que aflige São Paulo.

Mas, enfim, sem querer fazer apologia da tese “quanto pior, melhor”, não há dúvida que esse tipo de constatação é importante para a sustentabilidade, já que ajuda a fechar o cerco contra o desmatamento.

Resta mencionar, finalmente, o estudo desenvolvido pela Embrapa e que, tendo sido praticamente ignorado pela imprensa, pôs em xeque a produtividade da pecuária na Amazônia, onde para cada boi criado é necessário desmatar um hectare de floresta.

Quem sabe, as conclusões desse estudo tragam à tona o que deveria ser óbvio: o fato de que uma atividade com produtividade tão irrelevante não pode ser financiada com dinheiro público.

A desmitificação da pecuária como atividade importante para a região aproxima a Amazônia da sustentabilidade. Se é para criar boi, que seja longe daqui.

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