Envolver as comunidades na discussão dos seus problemas, sobretudo aqueles vinculados à produção primária, tornou-se requisito para aprovação de projetos e a conseqüente obtenção de recursos financeiros, já no início da década de 1990. Inseridas na moldura conceitual do que se chamou de Projeto Participativo, as ações de políticas públicas, quer fossem realizadas por instituições públicas, por ONGs ou até por empresas, deveriam passar pelo rigoroso crivo das comunidades envolvidas.

Todavia, após equívocos variados que envolviam desde meros entreveros pessoais até à desconfiança de malversação de recursos, os limites do envolvimento comunitário começaram a ser percebidos. Decisões erradas foram associadas ao crivo realizado pelas comunidades na hora de analisar as políticas públicas.

Faltava algo a ser construído de maneira paulatina e com muita paciência. Algo que requeria demasiado tempo, para uma população cuja participação havia sido cerceada, por quase 30 anos, no período autoritário. Algo que rapidamente os gestores de recursos chamaram de “qualificação da demanda”.

Isso significava que a demanda surgida no seio das comunidades ainda não estavam suficientemente qualificada. Exemplos simples, como confundir carência por informação, pela reivindicação para construir uma escola, ou mais complexos, como misturar necessidade de melhoria das condições de vida, com ampliação de renda e com a necessidade de verticalização da produção.

Um erro recorrente. Raros são os casos nos a discussão nas comunidades acerca de cadeias produtivas, seja de que produto for, não conclua pela antiga e, sempre mais visível, relação desfavorável entre capital e trabalho o que traz à tona, de maneira ainda mais visível, a repulsiva, repugnante e famigerada figura do intermediário.

Não importa se na compra e venda da produção, ou se no beneficiamento primário e secundário, o fato é que o intermediário não prestava em hipótese alguma.

A solução, novamente mais simples, seria a própria comunidade tomar para si a gestão dos meios de produção. Verticalizar a produção significaria que o produtor extrairia o látex, defumaria a borracha, beneficiaria, empacotaria e venderia.

Passava-se assim, de maneira rápida e conceitualmente admissível, do Projeto Participativo à Gestão Comunitária de empreendimentos. Seria fácil, se não fosse igualmente enganoso.

Passar do participativo à gestão comunitária era algo que ainda necessitava de ajustes e de muito mais tempo. Se a demanda ainda não estava qualificada para reivindicar quanto mais para gerir.

Como não poderia deixar de ser, os fracassos originados nos empreendimentos baseados na gestão comunitária, já no final da década de 1990, sinalizavam que os apressados teriam que se acalmar.

A história mostrou que, mesmo nos segmentos nos quais as comunidades tinham maior competência, com longa tradição produtiva e curva de aprendizado, como no de manejo e produção de castanha-do-brasil e de borracha, a gestão comunitária não avançou.

Em tese, com borracha e castanha não havia como não dar certo, afinal, tratam-se de atividades praticadas pelas comunidades há mais de um século, mas foi o que aconteceu.

Sem medo de errar, mais de 90% dos investimentos públicos, nacionais e internacionais, direcionados para a gestão comunitária de usinas de borracha e de castanha, espalhados por toda a Amazônia, faliram.

Uma falência generalizada de usinas comunitárias que o imperativo político, até hoje, não consegue deixar analisar com a devida isenção.

Uma lacuna para os estudiosos da sociologia se debruçar. Afinal, os prejuízos da gestão comunitária podem e vão inviabilizar o Projeto Participativo na Amazônia.

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