Divulgada pelo inquestionável Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), em  27 de novembro último, a taxa de desmatamento de 2018 demonstra que a destruição das florestas nativas da Amazônia aumentou 13,7%, em relação a 2017.

Antes que os desavisados se apressem em justificar que a realização de eleições, de maneira geral, promove a ampliação do desmatamento, esclareça-se que as medições anuais são realizadas entre agosto (do ano anterior) e julho; portanto, a taxa atual apresenta dados coletados até 31 de julho de 2018, bem antes das eleições.

No ano de 2012, pela primeira vez em 30 anos, a quantidade anual de florestas destruídas foi inferior a 5.000 km2. Desde então, constata-se uma tendência de elevação da taxa – com exceções, como em 2017, quando houve uma redução de 16% no desmatamento, em relação a 2016.

Tudo indica que a retomada dessa tendência de elevação está relacionada à retomada do crescimento econômico.

Entretanto, os cálculos do Inpe em 2018 trazem peculiaridades que precisam ser analisadas com maior critério, no intuito de se compreender a dinâmica apresentada pelo desmatamento – em especial diante dos compromissos assumidos pelo Brasil com a assinatura do Acordo de Paris em 2015.

Entre as peculiaridades observadas no comportamento do desmatamento em 2018, o aumento impressionante, e até certo ponto assustador, da participação de localidades periféricas chama a atenção.

Estados como Acre e Roraima, que se situam nas bordas da floresta amazônica e que costumavam ter participação irrisória no cômputo total da área anualmente desmatada, exibiram taxas inusitadas – e preocupantes.

Enquanto as economias mais pujantes – Pará, Mato Grosso e Rondônia, em ordem decrescente – apresentaram menos de 20% (16,7%, 12,0% e 5,7%, respectivamente) de ampliação do desmatamento, no caso de Roraima, esse acréscimo chegou a 33,3%.

Todavia, a despeito de ter sido deveras significativo, o percentual de aumento computado em Roraima não chegou nem perto da destruição florestal observada no Acre – que avançou nada menos que 82,9%.

Desde 2002, o Acre não desmatava com tamanha intensidade, sendo que, nesse período, a maior ampliação havia ocorrido em 2010 (55%), quando foram desmatados 259 km2, quantidade bem inferior aos 470 km2 de florestas destruídas em 2018.

Sem considerar o efeito das eleições e a expectativa gerada pela mudança de governo, a dinâmica do desmatamento no Acre pode explicar boa parte do que virá a acontecer na Amazônia como um todo.

Afinal, desde a aprovação da lei estadual do zoneamento ecológico-econômico, em 2007, a área de floresta anualmente desmatada no Acre teima em se manter elevada, quase sempre acima dos 250 km2. Situação que se agravou depois da extinção da Secretaria Estadual de Floresta, em 2012.

Ainda que se reconheça, por parte do grupo político que se manteve no poder nos últimos 20 anos, um esforço inicial para levar o setor florestal a adquirir importância na composição do PIB estadual, o fato é que, em todo esse período, a hegemonia da pecuária de gado na frágil e dependente economia acreana jamais foi abalada.

Não à toa, o projeto político apelidado de “Florestania” foi esquecido, na vã tentativa de se perpetuar o poder – e sem que tenha havido preocupação com um planejamento econômico que garantisse um futuro sustentável para o Acre.

Todos os grupos políticos, sem exceção, assumiram a defesa da agropecuária (na verdade, bem mais pecuária que agro), na condição de única saída para a eterna estagnação econômica que afeta a economia estadual.

Enganam-se todos. Não há saída econômica ou política com desmatamento.

O melancólico fim da Florestania e o início da nova era da pecuária ficam marcados pelo constrangedor aumento de 82,9% no desmatamento no Acre em 2018.

 

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