Depois de bater sucessivos recordes mensais de queimadas, o Acre fechou 2016 como o ano em que mais queimou desde o início das medições em 1998 (exceção feita a 2005, por conta dos incêndios florestais que devastaram a Resex Chico Mendes).

Alertas não faltaram; contudo, fizeram-se ouvidos moucos. O resultado foi que o estado chegou ao final de novembro contabilizando a soma absurda de 6.987 focos de calor. Os que se põem na defensiva se apressaram em desdenhar (como sempre) os números apresentados pelo Inpe, o prestigiado Instituto de Pesquisas Espaciais.

E na ausência de política pública capaz de reverter esse quadro sombrio, todos correram a culpar El Niño. Esquecem que os impactos dos extremos climáticos decorrentes do aquecimento do planeta podem ser ampliados ou reduzidos, dependendo da realidade (leia-se desmatamento) encontrada em cada região.

Não há dúvida científica quanto à constatação de que o desmatamento da floresta está na raiz de todos os males. Significa afirmar, sem medo de errar, que o tamanho da seca e/ou da alagação será maior ou menor, dependendo da área desmatada numa determinada localidade.

Por outro lado, haverá muito ou pouco desmatamento, dependendo das orientações emanadas da política pública. Todas as vezes que prefeitos e governadores aparecem na mídia em notícias ou declarações que de alguma forma motivam o investimento na produção agrícola e na criação de gado, a resposta do produtor será o aumento da área desmatada.

Acontece que a realidade é bem mais simples do que muitos imaginam. Ninguém desmata ou queima por maldade, apesar de haver quem creia nessa sandice. Desmatar é opção de investimento, e é aí que reside o perigo.

Em 29/11 último, com a divulgação do índice de desmatamento medido entre agosto/2015 e julho/2016 na Amazônia, mais uma vez os números do Inpe deixaram em maus lençóis os que defendem as políticas públicas levadas a efeito no Acre.

Afora o fato de que se trata de números inquestionáveis – pois não há como, sob o ponto de vista científico, refutar o levantamento do Inpe –, a ampliação em 47% do desmatamento em território estadual não deixa dúvida: existe grande indiferença e negligência governamental em relação ao desmatamento já ocorrido e ao que foi ampliado na área de influência da bacia hidrográfica do rio Acre.

Algo de podre está acontecendo, e nem com toda a condescendência do mundo pode-se aceitar que, para fora, aos ouvidos europeus, o discurso seja o da “supremacia verde” num Acre que se diz o “mais ambientalista” da Amazônia, enquanto para dentro, aos eleitores rurais, o discurso leve ao aumento do rebanho.

Significativos recursos financeiros ofertados pelos países mais ricos têm como exigência primordial a redução do desmatamento. A escolha deveria ser simples: ou o estado se qualifica como parceiro importante na cooperação internacional para a conservação da floresta na Amazônia ou como grande produtor de boi.

Não existe uma terceira via – como se chegou a imaginar na época da aprovação da Lei do Zoneamento Ecológico-Econômico.

Confiava-se, outrora, que o Acre não se tornaria um dos maiores responsáveis pela elevação do desmatamento na Amazônia. Confiava-se que o Acre seria exemplo de austeridade ecológica. Tudo perdido nos palanques.

Enfim, se o recorde de queimadas foi debitado a El Niño, resta uma pergunta bastante inconveniente: e o recorde de desmatamento? Foi a política de governo que causou ou a culpa é dEl Muchacho?

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