Parece haver um certo conformismo da sociedade acerca dos efeitos decorrentes da expansão da atividade agropecuária na Amazônia. Ou seja, com a sensação de que não há alternativas produtivas para gerar emprego e renda na região, se aceita conviver com o desmatamento, mesmo sabendo dos seus danos residuais.

Esse ponto é fundamental para a compreensão da dinâmica que envolve a permanência das taxas anuais de desmatamento. Ocorre que a falta de alternativa produtiva surge como ponto central para solução do problema. Afinal as opções, há muito tempo, não está na escolha entre a agropecuária que desmata e a permanência como santuário que ninguém pode mexer.

Todavia, enquanto não surgem alternativas produtivas apoiadas, de forma decidida, por políticas públicas coerentes com a realidade florestal da Amazônia, a sociedade continua a conviver com o ônus da substituição da floresta.

Sendo assim, pessoas e instituições têm direcionado seus esforços para tornar esse conformismo com a expansão da agropecuária sobre a floresta, em um sentimento cada vez mais solidificado, oferecendo o que os sociólogos devem chamar de bônus de consciência, ao introduzir medidas que, espera-se, reduzam os efeitos dessa expansão.

Isto é, como a conversão do ecossistema florestal em cultivos, como os de capim e soja, é inevitável, e estamos conformados com isso, vamos usar nossa capacidade criativa para inventar medidas paliativas que atenuem o estrago.

No entanto, os danos da expansão agropecuária possuem algumas características de tempo e dimensão que dificultam e, às vezes, impedem a introdução de medidas paliativas tornado-as inócuas.

Para se ter uma idéia, o maior impacto resultante da instalação da agropecuária acontece exatamente no momento da derrubada da floresta e na queima da vegetação. É nesse exato instante que quantidades expressivas de carbono (tanto da derrubada quanto da queimada) são colocados na atmosfera. Da mesma forma que é nesse exato momento que a diversidade biológica existente sofre reduções expressivas.

Esses estragos, somente para ficar nesses dois exemplos, que acontecem durante o ato de instalação da agropecuária e que possuem dimensões exorbitantes, além da impossibilidade de reversão, isto é uma vez realizado não tem volta, suas conseqüências podem afetar países do hemisfério norte ou de qualquer outro lugar.

Diante dessas características intrínsecas da agropecuária, as medidas inseridas no rol do bônus de consciência, que são várias, terminam por acarretar efeitos reduzidos e se perpetuam, sendo cada vez mais adotadas, somente pela necessidade que o homem tem de dormir tranqüilo.

As medidas do bônus de consciência, que, mais uma vez, não resolvem mas trazem algum tipo de conforto moral, vão desde a imposição de regras de atuação para a pessoa que vai operar a motosserra (ou acender o fósforo no caso das queimadas) até a instalação de consórcios de espécies, que misturam árvores com as espécies tradicionais (milho, feijão, arroz e macaxeira) da agropecuária.

De uma maneira geral, essas medidas podem ser agrupadas assim:

(a) – Medidas destinadas a atenuar a ergonometria envolvida no desmatamento e nas queimadas; (b) – Medidas que segregam áreas e espécies, da fauna e flora, do modelo de produção vigente, e, por fim; (c) – Medidas que procuram transformar o processo produtivo da agropecuária.

Criar Unidades de Conservação, como parte de um conjunto de medidas incluídas no bônus de consciência não levará a lugar algum.

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