Fazer com que o produtor que vive em área florestal na Amazônia se convença de que a melhor saída para ele é a exploração do imenso potencial da diversidade biológica existente na própria floresta, é algo muito difícil.

A resistência do produtor resulta do fato de que, na sua visão – como adverte o senso-comum -, desde o fim do mercado gomífero, no final da Segunda Guerra, que a produção florestal não tem mais valor econômico.

É provável, aliás, que o produtor refutasse aquele ponto de vista alegando, primeiro, que, fora a madeira, que realmente vale um bom (e fácil) dinheiro, tudo que os extensionistas dizem em relação aos produtos florestais (copaíba, orquídeas, taboca, cipós etc.) só tem valia para os pesquisadores; ele afirmaria ainda que, além da madeira, os produtos que existem na sua realidade seriam uma ou outra castanhazinha e o açaí – ambos já com fartas tentativas de cultivo, sem muitos resultados econômicos.

E possivelmente o produtor demonstraria seu ceticismo em relação à produção de madeira lembrando que os analistas ambientais do Ibama (ou de outro órgão ambiental) fazem uma confusão danada quando ele intenta derrubar uma árvore que seja; que é preciso um tal de Plano de Manejo – que para se conseguir é uma dificuldade enorme -, e mesmo assim, depois que se consegue, tem que se ter muito cuidado. E ele certamente concluiria explicando que, por tudo isso, resta-lhe como opção o desmatamento para plantio de pastagem e criação de gado.

Que o produtor está coberto de razão, não há dúvida. Seguramente, a agropecuária é mais fácil de introduzir, manter e legalizar, além de dar mais dinheiro. Só sendo muito conservacionista para optar pela atividade florestal.

E produtor que manifesta sensibilidade conservacionista (mesmo os seringueiros e as populações tradicionais) – da mesma forma que os produtos florestais alternativos à madeira -, só existe no plano das dissertações de mestrado.

O fato é que a produção florestal não consegue deslanchar. E não em razão de problemas de viabilidade econômica dos produtos, ou de algum tipo de impedimento tecnológico insuperável, ou, ainda, por falta de uma população que saiba manejar a floresta para extrair os produtos. A causa é, simplesmente, um contexto de incoerências diversas e variadas no âmbito das políticas públicas. O jeito, então, seria desmatar.

Todavia, desmatar também não é possível, e não por razões domésticas – pois já estamos até acostumados a isso -, mas devido a um corolário de acordos internacionais que o país não pode deixar de cumprir. A solução, dessa forma, passa pela remuneração dos serviços ambientais prestados pela floresta.

É quase como pagar para não se produzir nada, nenhum produto; mas, sim, em razão de um serviço prestado. Algo novo, e que promete reverter, de um modo que nem os ambientalistas mais otimistas imaginavam, a realidade produtiva da Amazônia. Quem arriscaria supor que, no início do século 21, a pecuária bovina poderia ser substituída pelos serviços que a floresta presta, ao garantir água e ar, por exemplo?

Pois o Programa Bolsa Verde, um projeto inusitado e muito bem vindo, instituído pelo governo federal, foi ainda mais longe: a ideia é pagar 100 reais por mês ao produtor que vive na floresta, para que mantenha o ecossistema florestal. Estima-se que quase 74 mil famílias de produtores rurais serão beneficiadas pelo programa até 2014.

É um número expressivo de produtores que vivem espalhados pelo interior da floresta, morando n’algum tipo de Unidade de Conservação, como uma Reserva Extrativista, por exemplo, ou, melhor ainda, na Mata Ciliar dos rios amazônicos.

A decisão de se incluir a população residente em Mata Ciliar como beneficiária do Bolsa Verde merece todo o apoio da sociedade. O aprimoramento do programa, a fim de se remunerar melhor o produtor que mantiver uma Mata Ciliar com largura maior do que a legal, é o caminho.

Finalmente, para os nossos rios, uma luz no final da ponte!

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