Que são feias não há a menor dúvida. Em que pese o esforço criativo dos artesãos, o emprego de garrafas de plástico para confecção de árvores de natal, e outros enfeites natalinos, deixa a cidade suja e esquisita.

Não seria possível comparar o efeito visual das árvores de verdade, aquelas que para quem não se lembra vem com caule, folhas e frutos, dessas coisas que se tiram do lixo como as garrafas de plástico e de PET, que servem de embalagens para os refrigerantes e outros líquidos consumidos fartamente durante as festas de final de ano.

Mas, de uns tempos para cá, pouco tempo diga-se, o emprego de lixo para fazer árvore de natal virou questão de engajamento político. O princípio do politicamente correto, ancorado no simbolismo da reciclagem, transfigurou um dos maiores ícones dos festejos natalinos que é a árvore de natal. De uma hora para outra a sociedade, guiada por uma visão deturpada de ecologia, passou a considerar sensato, inteligente e até bonito, algo inusitado como transformar lixo em árvore de natal.

Onde estaria a sensatez em se consumir produtos vendidos em embalagens originadas do petróleo, de elevado efeito poluidor, como as de plástico e de PET, sabendo que serão necessários milhares de anos para que a natureza consiga fazer com que desapareçam. O meio ambiente não possui capacidade para suportar a quantidade dessas embalagens atualmente produzidas.

Daí a supor que ao empregar essas embalagens em adornos natalinos a sociedade estaria auxiliando o meio ambiente na sua função de digerir esses materiais é, no mínimo, muita vontade de limpar a consciência. Não dá para se sentir tranqüilo porque as embalagens consumidas vão virar alguma coisa que não lixo mesmo. Um gesto de profunda insensatez que não tem nada a ver com responsabilidade ambiental.

Onde estaria a inteligência em se ampliar o uso dessas embalagens para além da imensidão de usos que a indústria já encontrou. É como se o esforço criativo da sociedade se direcionasse para auxiliar a indústria a encontrar novas opções de produção dessas embalagens. Sempre que se transforma plástico e PET em vassouras, tijolos, telhas, madeiras, flores e, o mais agressivo, árvores de natal, coloca-se à disposição das empresas novos produtos à base de petróleo a serem introduzidos no sistema econômico.

Uma conta simples é possível fazer. Cada garrafa de plástico que não retorna à indústria para a reciclagem verdadeira, ou seja, ser transformada novamente em uma embalagem, devido ao fato de ter virado uma vassoura que alguém criou, uma nova garrafa de plástico terá que ser produzida para atender a demanda pela embalagem, demanda que se amplia de forma exponencial. Ou seja, mais plástico foi introduzido no meio devido à criação da vassoura.

O mais grave é que, a julgar pela qualidade das embalagens que viram árvore de natal, não seria impossível imaginar que tenham sido adquiridas para esse fim. Isto é, sequer chegaram a serem usadas como embalagens e jogadas no lixo. Já vieram árvore de natal.

O esforço criativo da sociedade não deveria jamais ter sido direcionado para ampliar a demanda por esses materiais. O esforço precisa ser direcionado para fazer com que a embalagem usada, retorne à indústria para ser novamente processada. Vários problemas ainda precisam ser resolvidos para que isso funcione de forma adequada, e a única certeza é de que nenhum deles diz respeito à invenção de novos usos.

Os dois destinos plausíveis para essas embalagens são: retorno à indústria para derretimento e nova composição química para que seja usada em embalagens; ou, queima para produção de energia. Fazer voltar à indústria exige solucionar os antigos entraves da coleta seletiva de lixo que assusta os prefeitos. Produzir energia exige investimentos elevados em aterros sanitários que, igualmente, assusta os prefeitos. Mais fácil é enfeitar a cidade de lixo.

E assim, na Amazônia, terra de árvores maravilhosas como: castanheira, mulateiro, samaúma, cedro e mógno, árvores de natal são de lixo.

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