Desde a chegada do arquiteto português Antônio José Landi à Amazônia, em meados do século dezoito, que a necessidade de se adequar os espaços construídos à realidade florestal da região era facilmente percebida. Em meio às turbulências relacionadas à defesa do território, contra os invasores franceses, holandeses e ingleses, que já haviam sido bem sucedidos nas Guianas, o arquiteto foi contratado para planejar a instalação de fortificações ao longo da bacia amazônica.

Note-se que o traçado escolhido, para localização dos fortes pelo arquiteto foi aquele permitido pelo fluxo das águas. A velha bacia hidrográfica, unidade espacial que atualmente é reconhecida como principal referência para planejamento de uma ocupação social e econômica dos territórios com sustentabilidade ambiental, já tinha suas vantagens reconhecidas pelos portugueses.

Por sinal, com relação à urbanização das cidades, os colonizadores portugueses se diferenciaram dos espanhóis e outros europeus, por duas razões principais: a opção por acompanhar os fluxos naturais já existentes e a busca incansável pela adequação dos prédios e da infra-estrutura urbana, à realidade florestal onde seria instalada.

Não causar impactos exagerados, visuais e físicos, ao meio ambiente era uma regra do urbanismo lusitano. Mudar um rio de lugar jamais, furar montanhas para fazer túneis somente em último caso, desmatar florestas além do estritamente necessário um sacrilégio.

Todavia, parece que após 300 anos da colonização portuguesa na Amazônia, o “Princípio da adequação”, pressuposto maior da arquitetura lusitana, foi colocado de lado.

Uma cidade genuinamente amazônica baseada no princípio da adequação à realidade florestal, deveria, independente de qualquer outro quesito, inclusive o econômico, observar três leis elementares: a) serem elevadas sobre palafitas; b) empregar matéria-prima florestal; e, c) viradas de frente para os rios.

O uso dos pilotis (ou as palafitas amazônicas), que faz com que os prédios residenciais de Brasília adquiram um excelente formato paisagístico por permitir maior interação com o relevo de planície (como o do Acre, por exemplo), deixaria as cidades amazônicas com aspecto, no mínimo, asseado.

Ao se afastar da poeira e da lama, os prédios e residências ganhariam ventilação e assepsia, se desligando dos efeitos insalubres da umidade. A mesma umidade que onera, sobremaneira, a manutenção anual dessas construções.

Empregar matéria-prima florestal significa que as construções devem ser intensivas em madeira, palmeiras e taboca. As três são abundantes na Amazônia com uma diversidade de espécies e estéticas impressionantes. O bambu, ou taboca, tem largo emprego na cultura oriental e é mais usado no Peru que aqui.

Por sinal o emprego da madeira, tentado várias e equivocadas vezes em habitações populares, é comprometido pelo erro grave de ser considerado mais caro. Lógico que não é. Por mais que inicialmente a madeira requeira um investimento maior, seus custos de manutenção são bem inferiores ao da alvenaria.

Por fim, o grave processo de degradação dos rios e igarapés na Amazônia é o resultado da falta de sensibilidade de quem dá às costas para as águas. Um processo de ocupação e um modelo arquitetônico que se recusa a enxergar os Rios.

Logo a água, um recurso natural precioso que o mundo todo procura e que cujo valor, por aqui, não há.

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