Todo ano é a mesma história. Quando chega na semana de meio ambiente as manifestações se multiplicam. Governos se apressam em organizar eventos para assinar decretos que vão criar alguma nova unidade de conservação ou introduzir alguma nova regra para exploração, transporte, armazenamento, industrialização e comercialização de algum recurso natural.

Não pode faltar também o mais novo e popular segmento que se tornou ambientalista. Os catadores de lixo, descobertos pelos técnicos e acadêmicos na década de 1990, foram alçados à condição de exemplo de cidadania e ganharam, com isso, apoio para se organizarem em associações e cooperativas.

Independente deles, os catadores, quererem ou não uma farta opção de novos produtos à base do lixo ganhou expressão na imprensa sendo comercializados pelas suas organizações. Tem quem defenda, inclusive, transformá-los em função ocupacional, inserindo na legislação do trabalho a profissão de catador de lixo.

As manifestações também vão pela Amazônia, cujo problema ambiental mais grave é o desmatamento e não o lixo, tomando conta de todo mundo. Na realidade, quanto menor o IDH existente no município ou no Estado, maior será a quantidade de pessoas ocupadas com lixo. A condição da economia tem, evidentemente, reflexo direto no número de pessoas que serão obrigadas, por necessidade de subsistência, a viverem do lixo. Um princípio básico, e geralmente esquecido pela maioria, é que ninguém se envolve com lixo por opção, e sim, pela falta de opção.

Trata-se, portanto, de uma anomalia do sistema econômico. Espera-se que, no curto prazo, essa anomalia seja solucionada e que com o aquecimento da economia, redução das desigualdades e maior distribuição de renda, ninguém precise viver de catar lixo. Reconhecer a existência dessa ocupação profissional seria aceitar que o sistema econômico deva funcionar com uma natural exclusão de alguns menos favorecidos.

Mas, se a existência de um número enorme de catadores de lixo significa aumentar a reciclagem, o que é bom para o meio ambiente, então, pela lógica, os ambientalistas serão favoráveis ao reconhecimento que a categoria vem conquistando. O exemplo da latinha de cerveja parece mais que adequado. Em eventos ao ar livre, a latinha é recolhida antes de chegar ao chão. O Brasil é recordista na reciclagem da latinha de alumínio e usa esse fato para demonstrar o elevado senso de cidadania ambiental de seu povo.

Se a economia se aquecer a quantidade de catadores irá reduzir junto com a taxa de reciclagem do alumínio. Se assim fosse, o ambientalismo deveria reverenciar a pobreza. Todavia, felizmente, não é nada disso.

A indústria que produz o material a ser reciclado caminha para organizar o que os seus técnicos, que atuam nas federações das indústrias, no sistema “s” e nas próprias empresas, denominam de logística reversa. Uma tecnologia de distribuição invertida que deverá trazer o material a ser reciclado novamente para a indústria.

O problema do lixo, pode e deverá ser resolvido sem a triste, e agora romântica, figura do catador caminhando pelos lixões.

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