Construir consensos, como defendem os adeptos do planejamento estratégico situacional, é o primeiro passo para um país ou região se preparar, com algum grau de antecedência, para enfrentar as agruras que o futuro sempre reserva.

Todos reconhecem, entretanto, que não é tarefa das mais fáceis chegar a uma consonância quanto às atividades produtivas mais adequadas ao desenvolvimento de uma determinada localidade.

E o desafio fica bem mais complexo se o que está em discussão é a sustentabilidade social, econômica e ecológica da maior floresta tropical do planeta, cujo desmatamento, não precisa dizer, acarreta consequências nefastas e imprevisíveis em todos os continentes.

No caso da Amazônia, porém, trata-se de um consenso fundamental, e que deveria ter sido construído desde a década de 1970, quando se delineava o processo de ocupação produtiva da região.

Um consenso que era possível à época, e que pode ser resumido da seguinte maneira: priorizar a sustentabilidade ecológica da Amazônia não é opcional.

Significa afirmar que o modelo econômico de ocupação concebido e planejado para a região deve assumir, como princípio elementar, a convivência com o ecossistema florestal – pois a degradação desse ecossistema não pode ser considerada como opção.

Na verdade, a impossibilidade de convivência humana com o estágio atual do desmatamento na Amazônia, mais do que consenso, é fato científico.

Haverá quem diga que a sustentabilidade ecológica não é opcional em nenhuma hipótese, já que uma ocupação produtiva insustentável leva qualquer cidade ao colapso; contudo, a realidade não é bem assim.

Pelo contrário, na maioria das vezes, e independentemente do bioma e do país, faz-se a opção pelo crescimento industrial ou agropecuário em detrimento de perdas na sustentabilidade ecológica.

E longe de significar nosso fracasso como humanidade ou de caracterizar conduta mercenária, como se apregoa por aí, essa escolha exprime apenas uma reação sensata a uma situação real.

Ou seja, mesmo que o modelo produtivo adotado numa região seja um tanto insustentável para aquele respectivo bioma, sob uma análise fria, quase sempre baseada no curto ou no médio prazo, a sociedade aceita conviver com certo grau de prejuízo ecológico, todas as vezes que os ganhos econômicos forem considerados de alguma forma compensatórios.

Mas a Amazônia não pode se dar a esse luxo. Os impactos decorrentes da criação de gado se encontram no limiar da resistência e da resiliência do ecossistema florestal e, por outro lado, nenhum orçamento público é capaz de cobrir os custos com a recuperação da degradação ambiental causada por essa atividade.

Pior, não há ganhos econômicos que justifiquem ou contrabalanceiem a destruição da floresta. Basta verificar a contumaz fragilidade econômica das cidades amazônicas que teimam em continuar investindo na pecuária.

Com IDH irrelevante e perdas ecológicas sensíveis, a Amazônia não pode esperar – o consenso em torno da sustentabilidade deve ser alcançado já.

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