Todo produtor sabe que época boa para se fazer queimadas é setembro. Para alguns tem até o dia certo, na primeira semana, que é a indicada para queimar o solo esteja ele coberto por capim, grãos ou restos do desmatamento.

Mas algo mudou e, para quem gosta de comparações, esse deve ser, do ponto de vista das condições climáticas, o pior agosto da história da Amazônia. A fumaça tomou conta das capitais fechando aeroportos e colocando crianças, adultos e idosos, nos congestionados hospitais locais.

Saber exatamente o que mudou deveria mover os técnicos que estudam o clima e as implicações dessa nefasta pratica das queimadas. Afinal, será entendendo as causas, que se poderá reverter os efeitos danosos. Mas, ao contrário, todos gostam de se empenhar em saber se os incêndios são criminosos ou não, ou se a fumaça é produzida aqui ou acolá.

Um primeiro e importante passo para compreender todas as variáveis que fazem com que agosto esteja cinza na região diz respeito ao reconhecimento, por parte de autoridades, mas da sociedade também, do grau de catástrofe que a quantidade de fumaça presente no céu da Amazônia assume. Ou seja, trata-se de uma catástrofe e, por isso, as medidas de controle e de minimização de danos devem ser emergenciais.

Há fumaça devido à prática primitiva, que já há muito tempo deveria ter sido abolida, das queimadas. Não há dúvidas quanto a isso. No entanto, há fumaça também devido aos, recentes e de elevado risco, incêndios florestais.

É importante tratar esses dois temas de forma separada tendo em vista que, cada um possui dinâmica própria. Assumir a tolerância zero com as queimadas, proibindo sua realização em qualquer situação, é uma medida possível de ser colocada em prática com os níveis de tecnologia e de recursos financeiros existentes na própria Amazônia.

Extinguir as queimadas não é, como dizem, algo impossível de se fazer sob o argumento de que sem queimar o produtor vai passar fome. Uma chantagem com a sociedade urbana que sabe que o dilema não esta em queimar ou comer.

Já os incêndios florestais são mais atuais e também mais perigosos. Se antes, floresta em pé não pegava fogo, agora parece ser diferente e sempre que acontece um incêndio a tragédia é visível.

Chamar de incêndios criminosos, ou enveredar pela instalação de procedimentos de sindicância para apurar se começou com um fósforo, uma binga, um espelho ou um pedaço de latinha de alumínio, que estava na mão de alguém, não parece ser o caminho mais sensato.

A fumaça tomou o céu da Amazônia, ainda em agosto, comprometendo a saúde das pessoas, trazendo prejuízos econômicos que precisam ser calculados e destruindo o ecossistema florestal, sua mais importante riqueza estratégica. Isso é um fato, esta acontecendo na frente de todos.

O clima esta cada vez mais seco, a temperatura alta e a umidade relativa cada vez mais baixa, uma combinação explosiva para uma região que possui excesso de matéria orgânica, onde as florestas ainda ocupam a maior parte do território.

As perguntas a serem respondidas são: Quais as razões para que o clima esteja propício ao fogo? O que é possível alterar na forma de produzir no meio rural para que a umidade não fique tão baixa? A piscicultura, com a construção de milhares de pequenos açudes ajuda a resolver o problema, como foi feito quando Roraima incendiou? Devemos ampliar a área de mata ciliar para segurar mais águas nos rios?

Perguntas que precisam ser discutidas e respondidas sem ranço ideológico, mesmo em pleno período eleitoral que contamina tudo e a todos.

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