Na história recente deste país, jamais um presidente da república – após oito anos de mandato – deixa a Administração Pública com a popularidade e, o mais importante, o reconhecimento popular que o Presidente Lula obteve. Tomando-se emprestada a expressão cunhada pelo estudioso Carlos Matus, que dá título ao artigo, o adeus ao Lula não é melancólico: não observa a triste despedida dirigida aos governantes que saem do Poder pela porta dos fundos, amargos e mal-quistos.

No caso do Presidente Lula, é bem provável – uma vez que se alcance o necessário distanciamento histórico – que ele venha a ser considerado o Grande Estadista da política brasileira contemporânea, em especial no período posterior ao Estado Novo.

Poucos acreditavam, ainda em 2003, no início do governo, que Lula conseguiria chegar ao topo da política nacional e internacional. Pressionado, veementemente, de um lado, pela habitual ansiedade popular por mudanças e, de outro, pelo desgosto da classe média ante a condição operária do Presidente, o governo foi alvejado sem dó, e posto à prova por uma sucessão de escândalos, muitos forjados, alguns, reais.

Todavia, demonstrando clareza e objetividade – atributos raros, ressalte-se, na classe política em geral -, Lula manteve a determinação (ou obsessão, como gosta de repetir), de beneficiar economicamente os mais pobres, de aumentar a renda dos desfavorecidos. Logrou, dessa forma, feito inaudito: introduziu as classes C e D, antes excluídas, na dinâmica econômica do país, trazendo-as para o âmbito da classe média nacional.

Mesmo nas áreas mais débeis da atuação governamental – como o foi a ambiental – é difícil imputar ao Presidente a responsabilidade pelos embaraços que deixaram de ser superados. O Meio Ambiente, aliás, foi uma das primeiras pastas a ter dirigente definido – uma nomeação dada como acertada pela maioria. As alterações que se sucederam no comando da gestão ambiental sugerem que a decisão talvez não tenha sido tão acertada assim.

Em relação à Amazônia, tema sob estreita relação com a gestão ambiental, Lula não se descuidou em afirmar a condição estratégica da região para o país. Priorizou dois pontos nevrálgicos para a sustentabilidade amazônica: a regularização fundiária e a integração com os países amazônicos vizinhos.

Parafraseando-se a famosa (e trágica) sentença, Lula, diferentemente de outros governantes que tentaram e não conseguiram fazer história, sai da Presidência para entrar para a História. E não do modo lúgubre como o Presidente Getúlio Vargas, mas consagrado pela aprovação de quase 90% dos brasileiros – o que pode ser considerado unanimidade.

Espera-se que da mesma forma que manteve altivez como sindicalista; que demonstrou desprendimento, não se tornando deputado federal profissional; que superou as tentações para ser dirigente eterno de partido político; que teve a nobreza de não cogitar um terceiro mandato (como chegou-se a insinuar), Lula tenha a grandeza para assentar as bases de algo ainda inédito no Brasil: a instituição da ex-presidência, na forma como ocorre nos Estados Unidos, por exemplo, onde os ex-presidentes se tornam os sábios anciões, que se dedicam unicamente ao projeto de País, não se envolvendo em temas menores, em matérias vulgares. Afinal, assuntos para um ex-presidente do tamanho do Lula não vão faltar.

De qualquer forma, já não há dúvida: Lula é mesmo O Cara!

Download .DOC

xxxx