Os profissionais da Engenharia Florestal, sobretudo na região amazônica, vêm há anos se debatendo com uma dificuldade que se tornou, senão o maior, um grande dilema profissional: lograr produzir madeira na Amazônia. O problema é que, muito embora não haja dúvida quanto à viabilidade (técnica, econômica, social e ecológica) do manejo florestal de uso múltiplo, a sociedade, de maneira geral, hostiliza a exploração de madeira – atividade contra a qual é oposto largo preconceito.

O imaginário popular, ao que parece, foi abalado pelo lado nefasto da ampliação da fronteira agropecuária, responsável pelas imagens decadentes de motosserras destruidoras, tratores florestais do tipo Skider – que derrubam o que está pela frente -, e de treminhões carregados de árvores mortas.

Tais imagens, na verdade, traçam um quadro representativo do período mais intenso da expansão da fronteira agropecuária na Amazônia, ocorrido na década de 1970, e que se caracterizou por um processo produtivo relacionado à implantação de uma atividade específica – a pecuária extensiva.

Ou seja, o quadro em si não diz respeito ao produto madeira, mas, sim, à pecuária. Todavia, como a madeira oriunda do desmatamento era vendida para custear a destruição da floresta, a associação mental (como dizem os psicólogos) foi imediata. Surgia aí o forte preconceito relacionado à produção de madeira.

Some-se a isso o fato de essas imagens terem sido divulgadas de forma excessiva e equivocada por uma parcela do movimento ambientalista, aquela dita preservacionista, que acredita que as florestas devem ser intocáveis – ainda que isso implique na criação de um aparato público de fiscalização que, por seu custo e magnitude desmedidos, é simplesmente impraticável.

Assim, tem-se pelo menos uma geração inteira que presenciou a agressividade com que as florestas foram sendo substituídas por pastos, e que, dessa forma, quando contempla um caminhão toreiro carregado de madeira, não acredita que tal cena, longe de sugerir a destruição das florestas, pode aludir a uma atividade que é benigna à humanidade e, o mais importante, à própria floresta.

Reverter esse tipo de preconceito, que se encontra arraigado à coletividade, tem sido um desafio permanente para todos os envolvidos com o setor florestal. É o caso de Jan McAlpine, Diretora-Chefe do Secretariado do Fórum da ONU sobre Florestas, que, em passagem recente pelo Brasil, conclamou: usar madeira faz bem ao meio ambiente!

Para a Diretora da ONU, o uso de madeira oriunda de florestas manejadas é uma das principais soluções para a crise ecológica atual. McAlpine defendeu até mesmo o amplo uso da madeira na construção civil, em substituição ao concreto, cuja aplicação é tão arraigada no mundo; ao discutir os efeitos do terremoto no Japão, afirmou que “a madeira é firme, mas é mais maleável que o concreto, por exemplo. Neste episódio, pudemos ver como a madeira pode ser muito útil na construção civil”.

O pronunciamento da representante das Nações Unidas evidencia que já é chegada a hora de o mundo considerar a madeira como opção para ser utilizada no lugar do alumínio, do ferro e do concreto. Ampliar o emprego da madeira na construção de casas, por exemplo, confere à poluente indústria da construção civil a sustentabilidade que lhe é tão necessária.

É na produção de madeira, por outro lado, que desponta uma das saídas para a redução de carbono na atmosfera; igualmente, do uso – o maior possível – da madeira poderá surgir a base da nova economia de baixo carbono, a qual, espera-se, deve se consolidar em substituição àquela baseada no petróleo.

No Ano Internacional das Florestas, uma Diretora da ONU orienta o mundo a usar a madeira. São bons augúrios, sem dúvida – sinal de que profundas mudanças devem estar a caminho. Que bons ventos as tragam!

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