Muitos entendem que as possibilidades de exploração do ecossistema florestal da Amazônia se restringem à produção de madeira e dos produtos  denominados  (equivocadamente, diga-se) como “não-madeireiros”. Além de reducionista, uma vez que o ecossistema florestal, a cada agravamento da crise ambiental ocasionada pelo aquecimento global, ganha maior importância como termostato verde, essa genérica classificação carrega uma elevada carga de preconceito.

Ao que parece, a denominação “não-madeireiros’, aplicada a todos  os produtos que  a floresta pode ofertar afora a  madeira, foi criada por técnicos não afetos à ciência florestal, à época da redescoberta do extrativismo, ocorrida na década de 1980.

Geralmente vinculados às ciências humanas  (Sociologia, Biologia, Antropologia), os defensores dos não-madeireiros procuravam, na verdade, desvincular o extrativismo da produção de madeira e, assim, justificar a criação de unidades de conservação categorizadas como reservas extrativistas.

Com muito preconceito e pouca formação em manejo florestal, esses profissionais enalteceram a produção dos não-madeireiros e, ao mesmo tempo, jogaram a produção de madeira no balaio da destruição e da degradação.

Uma dicotomia perigosa surgia numa área tecnológica complexa, a do manejo florestal. De um lado, os engajados e bem-intencionados, favoráveis ao uso comunitário da borracha, castanha, artesanato, copaíba e outros produtos considerados ideais para as comunidades, cuja exploração não traria destruição nem a morte das espécies exploradas.

De outro lado, os pejorativamente chamados de madeireiros. Os técnicos majoritariamente oriundos da Engenharia, sobretudo da Engenharia Florestal, que seriam favoráveis à exploração da madeira, à derrubada de árvores e, por consegüinte, ao transporte de toras em caminhões do tipo “romeu e julieta”.

Uma percepção negativa da atividade florestal, de difícil superação, começou a contaminar o imaginário da sociedade urbana e dos próprios produtores rurais. Um equívoco que contaminou a elaboração de um cabedal  de normas restritivas ao manejo florestal (tanto empresarial quanto comunitário) e  que, de forma direta, acabou por promover a ampliação do desmatamento nas reservas extrativistas.

Ocorre que, na ausência de opções concretas para a obtenção de renda por meio da atividade florestal, o extrativista se voltou para a implantação da agropecuária. Os tais produtos não-madeireiros deslumbravam os técnicos mas tinham, e continuam tendo, poucas chances no mercado. Não conseguem superar o estigma de produto potencial e passar ao patamar de opção comercial.

Sem embargo, algumas comunidades de extrativistas, contrariando o senso comum e com ajuda de técnicos e organizações que ousam defender o manejo madeireiro, aceitaram se aventurar no manejo florestal comunitário de madeira, provando que os madeireiros não têm, necessariamente, que ir para o inferno; da mesma forma que os não-madeireiros não têm, necessariamente, assegurado seu lugar no céu.

A tecnologia do manejo florestal de uso múltiplo engloba a produção de um leque variado de produtos e, o melhor, a garantia de sua sustentabilidade.

Se é madeira ou a negação dela, não importa. O que importa mesmo é que a produção deve ser florestal e tem que ser manejada.

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