Períodos eleitorais costumam aquecer a economia no Acre, e uma vez que a elevação de 55% no desmatamento anual foi aferida entre 01/08/2018 e 31/07/2019, fica a dúvida: de quem é a culpa?

Segundo o prestigiado Inpe, em 2019 o Acre bateu recorde de desmatamento para os últimos 15 anos, sendo que uma espantosa área de 688 km2 de florestas foi completamente destruída, em corte raso – isto é, sem chance de regeneração.

A dúvida quanto à responsabilidade, ou culpa, pela absurda destruição florestal que mancha a reputação do estado, e que certamente não é motivo de orgulho para os acreanos, é mais que pertinente.

Explicando melhor. Uma parte desse desmatamento recorde medido pelo Inpe ocorreu nos últimos 5 meses de 2018, durante e logo após o período eleitoral, ocasião em que os produtores rurais investem para aumentar o pasto, apostando na omissão generalizada dos políticos que disputam seu voto.

Afora a usual injeção de dinheiro público na economia, por meio dos recursos oriundos do Fundo Partidário que abastecem as campanhas eleitorais, no caso específico do Acre, os produtores rurais foram incentivados a desmatar – tanto pelo governo da época como também por todos os candidatos da oposição, sem exceção.

Nenhum partido ou candidato apresentou alternativa viável para o futuro do estado que não fosse o agronegócio (ainda que ninguém tenha se dado ao trabalho de esclarecer, ou pelo menos debater, que categoria de agronegócio seria adequada à realidade rural e florestal de cada município).

Por sua vez, o governo que assumiu em janeiro de 2019, reproduzindo as declarações de baixo nível técnico do governo federal, fez questão de sair em defesa de um suposto direito de desmatar do produtor – muito embora não tenha demonstrado capacidade para explicar a que se destinaria o desmatamento da floresta no Acre.

Quer dizer, o governo estadual até o momento não conseguiu fazer uma distinção clara entre a produção de commodities para exportação (leia-se: cultivo de soja) e a criação extensiva de boi, atividade antiga e predominante no meio rural local.

No frigir dos ovos, o tal apoio ao agronegócio, prometido como a “redenção da economia”, não passa de incentivo à destruição da floresta para cultivo de capim e criação de boi – ou seja, a mesma pecuária extensiva e de baixíssima produtividade que vem sendo praticada nos últimos 40 anos, e que exige a destruição de um hectare de floresta para cada boi criado.

De outra banda, o governo anterior, ao abraçar o agronegócio, abandonando o projeto “Florestania”, que pressupunha uma saída econômica para o desenvolvimento do Acre por meio da exploração da biodiversidade florestal, teve expressiva parcela de responsabilidade sobre o desmatamento recorde de 2019.

Por sinal, as flutuações nas taxas anuais de desmatamento em território estadual nos últimos 20 anos evidenciam a dificuldade dos gestores ambientais para controlar a permanente tendência de alta.

Adotando costumeira atitude defensiva, os governos de antes e o de agora insistem no argumento de que é possível criar boi sem desmatar novas áreas de floresta, a despeito das fartas evidências científicas demonstrando o contrário.

Se existe algum aprendizado a ser extraído das idas e vindas do atual governo com relação à extinção e recriação do IMC-AC (Instituto de Mudanças Climáticas do Acre), é que o mundo já não admite a destruição florestal na Amazônia.

Outro aprendizado: controlar o desmatamento é mais complicado do que se imagina, exige um nível de competência técnica que não é fácil encontrar por aí.

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